quinta-feira, junho 21, 2007

ausência


correr em transplantes de oxigénio
com a alma a assobiar e não...
como ser ausente a prestações
p'ra não derramar desejos
apontar a direcção p'ra ver....
texturas em atrito e mais
manhã de fumo e alcatrão
em olhares que se querem difusos
sorrir em jeito de bricolage
dissecar palavras p'ra ter...
servir comodismo de condição
e ser vencido pelo tempo de processo
só porque já é tarde a tua ausência...

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

és poesia


és poesia que me veste
e me disfarça
és poesia que me limpa
e me ensina
és poesia que me culpa
e me deturpa
és poesia que me faz
e me desfaz
és poesia que me solta
e que me corta
és poesia que me mata
e me acorda
és poesia de manhã
e nesta luz
és poesia que eu quero
e nunca fiz

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

abraça-me antes de cortar o cabelo


se te sentir antes do céu
quero apanhar as sílabas
e construir as tuas palavras
um dia escrevo um livro
entre o ventre e agosto
máquinas de nada te servem
se não tiveres mãos...
mãos para me abraçar

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

guarda-me contigo
contra a parede
no teu bloco
na prateleira lá do canto
na enciclopédia
no banco detrás
guarda-me contigo
quando acordares
no teu olhar disfarçado
na tua cozinha
no teu conhecimento
dentro da tua máquina de lavar
guarda-me contigo
na tua ingenuidade
no teu vestido
dentro dos teus movimentos
nas pinturas da parede
nos teus copos de iogurte
guarda-me contigo
na caneta que te escreve
no café que absorves
com as tuas mãos que me conhecem
nas músicas que ouves
no incenso que inalas
guarda-me contigo
na água que te molha
na lâmina das tuas facas
com os segredos que me contas
na fechadura dessa porta
na tua irresponsabilidade temporária
guarda-me contigo
no lugar que te der mais jeito
e telefona de vez em quando...

sexta-feira, janeiro 26, 2007

poema fácil


é ter-te perto
com o teu corpo a flutuar na minha cabeça
com o teu sorriso a encher-me os olhos
com a tua respiração a soprar-me aos ouvidos
com o teu desejo a ajudar o meu a acender o teu
e estas palavras ficam tão fáceis de dizer
que até se tornam ingénuas
se queres saber mais
é só quereres perguntar-me
como é difícil perguntar por vezes!
e como temos receio de sentir
ou de dizer que sentimos...
já quase não tenho palavras
para me camuflar
como se vai tornando fácil
perder vocabulário dissimulado
e leva-me pra dentro da tua pele...

(É preciso dedicar?)
o rapaz que subia a montanha


parecia o início de um poema
parecia o lugar de ninguém
parecia o vento que corria
parecia o filho perdido da mãe

parecia outro lado de coisa alguma
parecia o tempo em hora de despedida
parecia o silêncio que não dormia
parecia a história de uma vida

parecia tudo o que não entendia
até parecia qualquer coisa estranha
só não conseguia parecer
o rapaz que subia a montanha

não parecendo quem era
mas sendo quem queria
ía subindo a montanha
que tinha de descer um dia

segunda-feira, janeiro 22, 2007

tempo ou a vontade de o fazer


pega-me e domina-te
para sentir a encontrar-me
abre uma fenda no meu corpo
para veres se ainda vivo
tu tens todas as ferramentas
escorre-me cor para as veias
não me digas quando acontece
e faz-me não ter a certeza
para poder repetir

quarta-feira, janeiro 17, 2007

saí para comprar palavras
daquelas sem conservantes
quando te encontrei
já estavam fora da validade

terça-feira, janeiro 16, 2007

a vontade
eu
mais além
estado liquído
o desespero
pela madrugada
fico ou não gosto de mim
e essa caixa que tem?
a solução?
é manhã
a vontade e eu
a ressaca
e o verbo depender
anda para trás
convida-me para entrar
injecta nos olhos
o brilho
espalha
que consegues fazer?
soletra o que penso
cronologia é só
vê-me
sem hesitar
ou elimina-me...
estranho dominio sobre um corpo adormecido


observo
conheço
além do visível
é como se me chamasses
inércia
desleixo
a maneira como respiras
e o lençol não cobre a imaginação
como é suave
esse teu corpo adormecido

sábado, janeiro 13, 2007

armadilhas-me o pensamento
atentados metafóricos
sem horário definido
e como eu gosto
mas vais ter de reivindicar...

terça-feira, janeiro 09, 2007

hoje é um dia
convertem-se horas
em palavras
em silêncio
em passos
em mais
convertem-se palavras
em silêncio
em passos
em mais
converte-se silêncio
em passos
em mais
convertem-se passos
em mais
converte-se mais
na facilidade de chegar
na dificuldade de partir
e o dia acabou
na esperança que chegue o outro
hoje foi um dia...

(Dedicado à Lurdes)