terça-feira, outubro 20, 2009

uma sala para respirar


chegam de todos os lados
cansados
pegam na luz e apagam
cegam
agora perdidos os sentidos
restejam
soluções na televisão
perdão
mais do que falta de visão
insanidade
dentro de uma sala
oxigénio
receitas e medicamentos
sustento
insistência na conveniência
desisto

terça-feira, junho 23, 2009

como se chama aquela pedra que me ofereceste


há dias a mais no interior das palavras
é urgente ser-se vida
cantar aquilo que sabes
sentir palpitações indiscretas
e talvez utilizar frases inacabadas
mas que sei eu disso?
se não me dizes o nome da pedra que me ofereceste

(topázio, talvez)

sábado, junho 20, 2009

fragilidade e força


pedes-me a fragilidade
estranho-te a força
cheiras o oxigénio
respiro os minutos
perdes-te no caminho
e encontro o sentido
ganhas-me em metáforas
vigio-te com adjectivos

liberdades medicamente assistidas
até insanidades embaladas
caminhadas silenciosas
p'ra trocar correntes e reacções
e técnicas de procriação
tudo são possibilidades
nos dias de fragilidade à força

segunda-feira, maio 04, 2009

condensado


por instantes condensado
sérios diálogos
por entre filtros e desarrumos
limpa-se com soda cáustica
e parece tudo igual
mas somos diferentes por exigência
e respeitamo-nos por princípio
queremos ser mais vidro do que barro
só para parecermos coerentes
vendemos palavras
porque não sabemos construir frases
condensado e desconexo
e quase ganho o processo
manual para a felicidade


vozes da salvação cortam as esquinas
armadilham-me as palavras com mel e chocolate
espremem-me a ignorância ao som de amoras e violinos
redomas impermeáveis cobrem o meu fuso horário
estou protegido contra tempestades de ilusão
e encontro-me no sítio do costume
só lá me chamam pelo nome
como assimilo bem este estado crescente de hipocrisia
como gostam de mim quando me transformo
metamorfose controlada mas porque me exigem
medem-me o conhecimento pelo número de sorrisos
quero ser adulto para me poderem prender
mas eu ainda gosto de ovos kinder...

quinta-feira, abril 02, 2009

gabinete da juventude


tertúlias e jornais
convites por cortar
exposições por fazer
farturas para comer
biblioteca sozinha
linhas condutoras
e outras directrizes
não se sabe onde
apoios e actividades
encontros e saudades
à terça tudo se fabrica
gabinete da juventude
gabinete que não existe
se não houver atitude

dedicado a todos os gabinetes da juventude
cujos os membros gostam de farturas

sábado, fevereiro 28, 2009

serotonina


A vaguear sem garrafas de água
matam-se insectos por distracção
e tudo é patologia
aquele vocabulário bonito
onde muito fica por entender
injectem-me serotonina
e ácido acetilsalicílico
para acabar com a depressão
e matar a constipação

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

acreditamos


caímos de árvores
subimos onde podemos parar
o silêncio é distante
resolvemos problemas
e sorrimos
queremos ser invencíveis
de tão frágeis que somos
caminhamos com fraquezas
chamamos por nomes que não conhecemos
e sorrimos
a neve já cai de cor diferente
e nós já não queremos brincar
porque é cedo para ir
é cedo para apagar números
e não sorrimos
acreditamos que foi engano
as portas já não são as mesmas
ficam lágrimas e recordações
porque já não sorrimos
recusamos sorrir
sem motivo para partir
ainda ontem eramos dois
amanhã voltaremos a ser dois

dedicado ao amigo Zé (1989-2009)
Onde quer que te encontres
continuarás a marcar golos.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

pasto


passo no pasto
e quero saber
espeto um pau
mato animais
e começa a cadeia
interior


sonhos em tupparware
servidos à discrição
aceita-se o tempo
traçam-se direcções
as aves migratórias já não passam por aqui
e por aqui caem vozes que já não se levantam
minimalismos humanos a cores mas sem degradê
e tudo o vazio consome
alcatrões intactos
suicídio de cães e ratos
a terra perde para as ervas daninhas
o eco é mais forte
rouba-se sem medo e sem segredo
as pedras da calçada já foram homens
agora homens que são pedras
há vida dada pelo vento
mas não há sentimento
interior vazio
e animais sem cio
dissolve-se