domingo, dezembro 16, 2012

sebenta gourmet


pelo traço que me  faz
sinto a viagem que me espera
e o salpico que ja fui
foi olhar que te abraça

se não fosse mais além
o segredo partia o modo
de se estar no mesmo medo
com o sorriso que eu broto

a barca que velejo
no vento que ainda se faz
vem-me aos braços o espanto
de poder não ser fermento

insisto no passo que traduzo
no intruso que me sinto
para trás não me aconchego
para a frente estou perdido

se vieres no compasso
não me cruzo onde marco
vejo mais cedo o carreiro
onde o manto foi pisado

e se o tempo já passou
sei coser com melhor linha
o rascunho cicatriza devagar
mas o desenho já está feito

quinta-feira, novembro 29, 2012

catálogo de outono


e nos olhos que desmonto
de dentro para onde vejo
espalho pelo chão
a manhã que me acordou
limpo as partes que caíram
com a roupa que não dobrei
e identifico os tratados
com as normas aprovadas
sapiência sem brilhos
mas com sucesso no mercado
agora tenho os movimentos catalogados
à espera de perícias de rotina
e parto pela esquerda do caminho
no direito que me quero
aprendo com o rasto que me abandona
que o futuro é quem fica


amor é agasalho


nas asas que sustento
chegam raízes que me servem
faz-se muito com sentido
do pouco que nos esconde
com os passos que me despertam
nas horas em que adormeço
sigo descalço pelas pedras
para voltar à impureza
desta vez não tenho nada
nem sementes para lançar
a nudez da minha mão
é promessa de caminho
no lado onde encontrei
este coração que trabalho
não preciso mais de armas
porque amor é agasalho

sexta-feira, novembro 23, 2012


o admirável mundo da fast food


escondem-se muros com retórica
na ousadia da tradição
calam-se silêncios com embalagens
e vestem-se fatos de gola alta
já estão todos preparados para a festa
a gula traz mais prazer quando partilhada
e o inverno fica mais distante
das nossas mãos geladas
todos gostam da cerimónia
mesmo que não haja oração
vamos crescendo indecisos
devotos da autopromoção
fixados no prazer longe da nossa voz
a lucidez da utopia torna-se contraditória
os pregos que se arrancam são marcas efémeras
numa carne sem sentido
metáforas deliciosas
transforma-nos em eufemismos
e agora todos batemos palmas
como forma de gratidão
matamos mais de nós
para ficarmos dentro da cancela
e presos seguimos em frente