domingo, dezembro 03, 2006

e o amor é um dia mau
estas já não são as minhas costas
estes já não são os meus rebanhos
e depois nada semeio
com a certeza de canetas estragadas
com o fogo a queimar-me o ar
vem-me asfixiar
mas quero a tua liberdade
se me soltas, solto-me também
este dia é de amor
e o amor é um dia mau

sexta-feira, novembro 24, 2006

tempestades espontâneas
a lápis de carvão
pinta a boca a preto
para as palavras saírem de luto
podes levar os sonhos que me emprestaste
e leiloar as unhas com que me arranhaste
ainda levam restos da minha pele...

sexta-feira, outubro 27, 2006

como é bom ter uma conversa
e ficar mais ignorante!
pele com o teu sotaque é mais macia
toco-te ao longe e já imagino
falas de coisas que eu nem sei
entro pelo outro lado do mundo
e já nem quero saír
se eu te sentir então
tudo vai ser imprevisível
mas eu quero correr esse risco
adivinho-te em todas os lugares
crio-te em todas as manhãs
a meio da tarde voltamos a falar
e das coisas que eu continuo sem saber
quero sentir o teu respirar
em todos os meus poros
todos
é sexta-feira
ainda tenho tanto para não fazer
misturo amarelo com magenta
sai-me cor-de-rosa
estas tintas são uma fraude
e estes pincéis deturpam-me
há corrupção na pintura
há barulho nestas manchas
segui o teu conselho
mas não compro mais esta marca
uma parede de costas pintadas
idiota
cruza os braços
fala em vão
respiro mas asfixio
o sujeito da estação
meteu gasolina
saí sem pagar
idiota
foi o que eu ouvi
a estrada é seca
e eu já cheguei ao início
só me apetece não voltar
mas é lá que eu trabalho
idiota
é o que eu digo
matava se eu morresse
mas que sede de golpes nas costas
cortesia de uma boa marca de facas
é tinta que me sai das veias
é tinta que vai parando
não apago com qualquer borracha
idiota...

sexta-feira, outubro 20, 2006

vou afogar estes textos que escrevi
quero ouvir as palavras a gritar
talvez lhe junte um caldo Knorr
pra tornar mais saborosa a conversa

quarta-feira, outubro 18, 2006

tenho a vida lançada em fascículos
mas com a garantia da Planeta de Agostini
as primeiras fases são mais baratas
oferta de lançamento:
estádio sensório-motor e
estádio pré-operatório
por apenas uma dose de sanidade

domingo, outubro 15, 2006

ontem cheirava-me a girassois
hoje cheira-me a café torrado
escrevo com pedras na pele
e espero ver nascer cicatrizes
tento parar a auto-destruição
com betadine e álcool etílico
quando é que me envias aquelas palavras?
envia-mas por correio expresso
para me marcarem mais cedo
e mais cedo o tempo as apaga
vida prostituta a viajar em classe turística
é esta a revolta silenciosa
que me dilata as veias até rebentarem
mas não te esqueças,
envia-mas por correio expresso

sexta-feira, outubro 13, 2006

se decidires voltar para trás
toma atenção
porque o caminho já não é o mesmo...

sexta-feira, outubro 06, 2006

o homem que não sabia nadar
e que nadava sem saber
o homem que queria ser egoista
e que não era egoista sem querer
o homem que preferia não sentir
e que sentia sem o preferir
o homem que sabia o que queria
mas que foi abatido à saída de casa
com uma Smith & Wesson de calibre 38
o homem que pensou
que não valia a pena ser homem
o homem que pensou
que não valia a pena dar amor
o homem que pensou
que a relatividade dos corpos não deveria existir
o homem que pensou
que era eu
eu fui o homem que pensou
e pensei que não devia pensar
pensar torna-me humano
o homem que pensou
que não valia a pena ser homem
mas pensava
logo era homem
era amor
era relatividade
amor não tem relatividade
era homem
era amor
era relatividade
foi abatido
foi melhor assim...

quarta-feira, outubro 04, 2006

estás a ver essa camisola às riscas de marca que tens?
não gosto dela
tresandas a beto filhinho do papá
mas eu apanho-te aí numa esquina
olha pra todos os lados enquanto andares na rua
alguém sabe
às vezes fico cego
alguém sabe
às vezes fico perdido
alguém sabe
às vezes tenho de dormir
alguém sabe
às vezes tenho um bom jantar
alguém sabe
às vezes não sabe nada
não sabe nada
não sabe a nada

segunda-feira, outubro 02, 2006

atira-me dicionários
p'ra ver se encontro o significado
ou talvez nada
se todas as agulhas me causassem dor
não levava a vacina anti-tetânica
espetei-me nos olhos
vi que eram castanhos
e o dia continua com vinte e quatro horas
hoje injectei-me com Super Pop Limão
e desengordurei todas as minhas veias...

quinta-feira, setembro 28, 2006

tiraste-me os olhos mas não me tiraste a visão
levita essa tua biblia urbana
leva-me à incompreensão
já me cheirou aqui melhor
já me corrompi vezes demais
tiraste-me os dedos mas não me tiraste os aneis
desce essa tua biblia urbana
construí pontes nos rios que não existiam
atravessei mas não olhei para baixo
quente sangue
ar que que me asfixia
tiraste-me a cerca mas não me tiraste a as algemas
rasga essa tua biblia urbana
porque o rio aqui jamais passará